1º Mandamento
Um sacerdote não deve enganar ao seu
semelhante acenando com conhecimentos que não possui. E jamais dizer o que não
sabe, ou seja, passar ensinamentos incorretos ou que não tenham sido
transmitidos pelos seus mestres e mais velhos ou adquiridos de formas
legítimas. É necessário o conhecimento verdadeiro para a prática da verdadeira
religião.
Significado: Quem abusa
da confiança do próximo, enganando-o e manipulando-o através da ignorância
religiosa, sofrerá graves conseqüências pelos seus atos. A natureza se
incumbirá de cobrar os erros cometidos e isto se refletirá em sua descendência
consangüínea e espiritual.
2º Mandamento
O sacerdote deve saber distinguir entre o ser
profano e o ser sagrado, o ato profano e o ato sagrado, o objeto profano e o
objeto sagrado.
Significado: Não se pode
realizar rituais sem que se tenha investidura e conhecimento básico para
realizá-los. Chamar a todos, é considerar a todos, indiscriminadamente, como
seres talhados para a missão sacerdotal, o que é uma inverdade ou, o que é
pior, uma manipulação de interesses. Da mesma forma que nem todas as contas servem
para formar-se o colar de uma divindade (como as contas sagradas), nem todos os
seres humanos nasceram fadados para a prática sacerdotal. Para ser um sacerdote
são necessários inúmeros atributos morais, intelectuais, procedimentais e
vocacionais. A simples iniciação de um ser profano, desprovido destes atributos
básicos e essenciais, não o habilita como um sacerdote legítimo e legitimado.
Da má interpretação e inobservância deste mandamento resulta a grande
quantidade de maus sacerdotes que proliferam hoje em dia dentro do Culto.
Observa-se a diferença entre “ser sacerdote” e “estar sacerdote”. Aquele que se
submete à iniciação visando tão somente o status de sacerdote, jamais será um
verdadeiro sacerdote. Estará sacerdote, cargo adquirido pela iniciação, mas
jamais será sacerdote, condição imposta por sua vocação, dedicação,
espiritualidade e desprendimento. Caberá ao sacerdote iniciador do neófito
consultar Fá, com muito critério, para apurar se aquele noviço será realmente
digno do sacerdócio.
3º Mandamento
O sacerdote nunca deve desencaminhar as
pessoas dando-lhes maus conselhos e orientações erradas.
Mensagem: É inadmissível que
um sacerdote se utilize o seu poder e do seu conhecimento religioso para, em
proveito próprio, induzir ao erro aqueles que o cercam. Ao agirem desta forma,
assumem a postura das aves noturnas que, nas trevas, saciam suas necessidades
com o sacrifício e o suor alheio. Dar maus conselhos e orientações erradas é
expor as pessoas aos perigos de energias maléficas e sem controle. Uma das mais
importantes funções do sacerdote é orientar seu discípulo, conduzindo-o ao
caminho correto, ao encontro da felicidade, de acordo com os ditames
estabelecidos por seu destino pessoal e de seus ancestrais protetores.
Quem chega aos pés
de Òrúnmìlá para consultar seu oráculo em busca de soluções, deve ser orientado
pelo sacerdote corretamente, independente do interesse deste como olhador. A
pessoa que chega com um problema deve ter seu problema solucionado e não vê-lo
acrescentado de outros criados artificialmente com o fito de proporcionar a
quem a consulta, vantagens financeiras ou possibilidade de conquistas e abusos
sexuais.
4º Mandamento
Tudo deve ser feito de acordo com os ditames e
os preceitos religiosos. A simples troca de uma simples folha pode ocasionar
conseqüências maléficas ou tornar sem efeito um grande ritual da mesma forma
que as folhas do Labá (Arágbà para os Nàgó) não são iguais às folhas de Ahoho
(Akókò para os Nàgó).
Interpretação: O sacerdote
não pode, em nenhuma condição, utilizar-se de falsos recursos, fornecendo
coisas sem validade religiosa como elementos de segurança ou de culto. Os
procedimentos litúrgicos devem ser observados integralmente e a ninguém cabe o
direito de fazer “isto” por “aquilo” quando em “aquilo” é que está a solução.
Aquele que utiliza
de meios escusos e enganosos contra seus semelhantes, será culpado do crime de
abuso de confiança. Aquele que usa de artifícios e mentiras contra as pessoas
inocentes e de bom coração provoca o descontentamento de Òrúnmìlá e a
conseqüente ira de Legbà.
Cada ser espiritual
possui um nome individual, de acordo com a determinação de Yàvóvòdún. Da mesma
forma, cada Legbà possui nome e identidade própria, assim como atributos
específicos. É inadmissível, portanto, que este mediador tão sagrado e
importante dentro do culto, seja assentado e entregue de maneira irresponsável,
e que aqueles que a recebem permaneçam ignorantes do seu nome, qualidade, forma
de tratamento e especificidade de função.
“Òrúnmìlá é aquele que
nos olha com amor, não façamos por onde o mesmo possa nos olhar com desprezo”.
5º Mandamento
O saber é fundamental para quem quer fazer.
Para tanto, é necessário o poder, que só o conhecimento pode outorgar.
Interpretação: Um sacerdote
não pode proceder a liturgias para as quais não seja habilitado através do
processo iniciático ou cuja prática desconheça ou domine apenas parcialmente.
Um sacerdote não deve ostentar uma sabedoria que na verdade não possua.
Procurar saber não avilta, mas, pelo contrário, exalta o ser humano. O saber é
condição básica para que se possa fazer. E todo ritual deve ser feito
integralmente e com legitimidade total. Se houver dúvidas sobre algum
procedimento, deve-se pesquisar profundamente sobre ele. Cabe ao sacerdote
ensinar tudo o que sabe àqueles que o cercam e que nele confiam. A sonegação de
ensinamentos corretos e completos implica na responsabilidade da prática de
suicídio cultural. Da mesma forma, buscar orientação em quem sabe nada tem de
humilhante e enaltece tanto àquele que busca como ao que fornece a orientação.
A verdadeira sabedoria consiste na consciência da própria ignorância. Não
existe ser neste mundo que saiba tudo!
“Deus não deu ao
ignorante o direito de aprender sem antes tomar de quem sabe a obrigação de
ensinar”
6º Mandamento
Humildade e desprendimento são atributos
indispensáveis de um verdadeiro sacerdote.
Interpretação: Um sacerdote
não deve ser vaidoso de seus poderes, mas consciente deles. E não deve agir
somente visando o próprio benefício, existe para servir e não para ser servido.
A vaidade transforma o homem fraco de espírito num pavão que faz questão de
exibir sua bela plumagem sem a consciência de que é a sua beleza que,
despertando a atenção de terceiros, irá provocar a sua morte. Num Fádù (caminho
de Ifá) encontramos narrativas que falam do exibicionismo do pavão que,
ostentando a beleza de sua plumagem, atrai para si a atenção de todos que,
depois de sacrificá-lo, transformam suas penas em belos leques e adornos. O
verdadeiro sacerdote, o eleito pela divindade, não se preocupa em exibir seu
poder nem o seu saber em disputas vãs e inconseqüentes. Acumula em si uma
grande carga de sabedoria que transmite com dedicação a quem merece saber. O
exibicionismo é um dos maiores defeitos num ser humano e inadmissível a um
sacerdote. Já dizia o velho jargão: “Num burro carregado de açúcar, até o suor
é doce”.
É assim que, aos olhos
do sábio, parecem os exibicionistas: “burros carregando açúcar”.
7º Mandamento
As boas intenções devem prevalecer acima de
tudo. A casa das divindades é o templo onde a iniciação é obtida.
Interpretação: A iniciação
não pode ser motivada por interesses que não sejam puramente religiosos. As
verdadeiras intenções do iniciando devem ser cristalinas como a água pura. E
desprovidas de qualquer outro objetivo que não seja servir à humanidade. Querer
iniciar-se no culto por simples vaidade, para obter status social ou ostentar
títulos sacerdotais é profanar o sagrado. Aquele que profana o sagrado
tabernáculo das divindades, movido por qual for o motivo, pagará com duras
penas o sacrilégio praticado. O conhecimento corresponde às responsabilidades
que nem todos estão preparados para assumir. O conceito mais amplo simboliza a
atitude de um predador que esconde suas garras procurando adquirir a confiança
de sua vítima para ter base de agir no momento mais propício aos seus
objetivos. A mesma responsabilidade assume aquele que inicia pessoas que não
possuam os requisitos básicos exigidos para tal, visando aí, a simples vantagem
financeira.
É muito melhor errar
por não saber do que saber e persistir no erro.
8° Mandamento
A pena chamada Akpenin (ekodidé para o povo
Nàgó) é um dos símbolos mais sagrados dentro do culto e, por este motivo,
jamais deverá ser aviltada.
Significado: Os sagrados
fundamentos não podem ser usados com objetivos vãos. Os tabus devem ser
integralmente observados sob pena de severas conseqüências. O sacerdote deve
submeter-se de bom grado às interdições impostas por seu Fádù ou Odù pessoal,
assim como aos tabus de sua divindade protetora. A observância destes ditames
está diretamente ligada ao estado de submissão às divindades cultuadas. A
obediência total às orientações de Fá conduz o homem à plenitude das bênçãos.
Utilizar-se dos sagrados conhecimentos de forma leviana corresponde a profanar
o sagrado. Não se deve utilizar o conhecimento para prejudicar a quem quer que
seja. A prática do mal, invariavelmente, apresenta resultados mais rápidos, mas
conduz a caminhos tortuosos que não têm volta. Da mesma forma, aquele que se
utiliza deste conhecimento visando unicamente auferir vantagens econômicas,
está em desacordo com os sagrados ditames e será responsabilizado por isto.
“Tornar vil um símbolo
de iniciação como o Akpenin” é o mesmo que usar coisas sagradas com objetivos condenáveis
e fúteis.
9° Mandamento
A sujeira e a falta de higiene são
incompatíveis com o rito.
Significado: Os Elementos
sagrados, indispensáveis ao ritual, hão de ser sempre muito puros e limpos. Da
mesma forma, tudo deve ser limpo, os instrumentos, os ambientes, os
assentamentos e principalmente, as atitudes. É inaceitável a falta de limpeza e
de higiene em qualquer aspecto, quer seja físico, ambiental ou moral. O
sacerdote deve ser escrupuloso com tudo. Seus instrumentos litúrgicos, os
altares das divindades cultuadas, seus trajes, seu corpo, suas atitudes e seu
caráter hão de permanecer, sempre, impecavelmente limpos. Nenhum Vòdún admite a
sujeira, seja ela física ou moral.
10º Mandamento
Tudo aquilo que antecede a um rito e que a ele
faça referência, deve ser realizado com limpeza e religiosidade.
Significado: Da mesma
forma que o ritual deve ser cercado de cuidados de limpeza, a confecção das
comidas e oferendas deve seguir os mesmos princípios. Preparar as comidas
ritualísticas é também um rito e deve ser realizado em total circunspeção e
concentração religiosa. Durante a preparação das ofertas e comidas
ritualísticas a atitude de quem dela participa deve ser a mesma de quem
participa do ritual em si. É inadmissível que, neste momento sagrado, as
pessoas estejam consumindo bebidas alcoólicas, falando coisas vulgares,
discutindo, brigando ou tentando exibir seus conhecimentos, humilhando a quem
sabe menos. A postura será sempre sacerdotal, o silêncio e a concentração devem
ser mantidos e, ensinar a quem não sabe ou a quem sabe menos, é uma obrigação
sagrada.
11° Mandamento
Não se deve retirar a bengala de um cego. (A
bengala de um cego substitui seus olhos e indica os obstáculos que se interpõem
em seu caminho).
Significado: O sacerdote
não pode prevalecer-se de sua carga de conhecimento para humilhar ou confundir
a ninguém. O sacerdote há de ter o mais profundo respeito pelos que sabem
menos. Ninguém tem o direito de descaracterizar o que os outros sabem e
acreditam. Abalar a fé de quem sabe pouco ou nada sabe, é retirar a bengala de
um cego, deixando-o sem qualquer orientação nas trevas em que caminha. Uma das
mais importantes missões do sacerdote é ensinar e orientar. Muitas vezes surgem
pessoas que nada sabem e julgam saber. É neste momento que o sábio aflora no
sacerdote e a orientação correta e o ensinamento certo são passados, com
doçura, sutileza e humildade, sem melindrar a quem os recebe e sem provocar
confusões em sua cabeça. Tudo deve ser ensinado com clareza e lógica. O
Sacerdote, no exercício de seu sacerdócio, assume também a missão de mestre.
12° Mandamento
Não se retira o bastão de um ancião. (O bastão
do ancião representa o acúmulo de experiências adquiridas nos longos anos em
que viveu).
Significado: Deve-se
respeitar e tratar muito bem aos mais velhos, principalmente os mais antigos na
religião. O respeito aos mais velhos é um dos principais fundamentos de uma
religião onde, reconhecidamente, antigüidade é posto. Faltar-lhes com o devido
respeito e atenção é como lhes retirar o bastão em que se apóiam. Aquele que
sabe respeitar, acatar e amar aos seus mais velhos, sem dúvida receberá o mesmo
tratamento quando também caminhar apoiado no seu próprio bastão. Os velhos,
pelas experiências vividas, representam verdadeiros mananciais de sabedoria
onde cada um deve procurar beber um pouco, saciando a sede de saber. São livros
sagrados, cujas páginas devem ser lidas com paciência e carinho. Uma religião
que, durante séculos incontáveis, teve seus fundamentos transmitidos oralmente,
deve valorizar sobremaneira, aqueles que são depositários destes conhecimentos.
Um velho, por mais obtuso que possa parecer à primeira vista, sempre terá algo,
obtido nos longos anos vividos, a ensinar. Devemos lembrar sempre que, se
antigüidade é posto, saber é poder!
13° Mandamento
O Sacerdote, como homem de bem, deverá pautar
sua vida de acordo com os ditames das leis dos homens e das sagradas leis de ifá.
Significado: Pugnar pela
obediência às leis é uma das obrigações de um sacerdote que, neste sentido, deve
também orientar os seus seguidores. Da mesma forma, as leis de Fá, devem ser
observadas integralmente e a ninguém cabe o direito de manipulá-las em
benefício próprio ou de outrem. O homem religioso não pode viver à margem da
lei e da sociedade da qual deve fazer parte como célula importante.
14° Mandamento
Os amigos devem ser respeitados e uma amizade
não pode ser traída.
Significado: A sentença
busca valorizar o sentimento de amizade que deve ser pautado sempre, no
respeito mútuo e na reciprocidade ética, que em hipótese alguma, podem ser
esquecidos. “Um amigo vale mais do que um parente”. Esta afirmativa da
sabedoria popular fundamenta-se no fato de que os parentes nos são impostos
pelo destino, ao passo que, os amigos, cabem-nos escolher dentre as inúmeras
pessoas que surgem no decorrer de nossas vidas. Se os elegemos de livre e
espontânea vontade os nossos amigos, por que traí-los? Por que não dar a eles o
mesmo tratamento que gostaríamos que nos dessem? Conservar as amizades e
tratá-las com respeito e carinho é, acima de tudo, uma demonstração de
sabedoria. As amizades devem ser cultuadas e ninguém deve criar animosidade
entre amigos colocando em risco uma relação que pode representar um grande
tesouro.
“Mais vale um amigo na
praça do que dinheiro no banco”.
15° Mandamento
Não se deve usar a religião para motivar a
guerra e a separação dos homens.
Significado: A religião
tem por finalidade única unir os homens através do criador. Não é concebível,
portanto, que possa ser utilizada como elemento apartador dos seres humanos.
Mesmo no âmbito de uma mesma religião pode-se verificar a atuação de pessoas
que, de forma nefasta, e visando seus próprios interesses, jogam uns contra os
outros, semeando a desconfiança e a discórdia entre sacerdotes, irmãos e adeptos.
Muitas guerras, têm feito derramar o sangue de inocentes, enlutando famílias e
propagando a dor e o pranto.A motivação religiosa que as incentiva é, no
entanto, uma máscara para o seu motivo real: a obtenção do poder. O verdadeiro
sacerdote deve pugnar pela união dos homens, independente de seu credo
religioso. Deus é um só e todos os homens são seus filhos e, por conseqüência,
irmãos entre si. Da mesma forma, os sacerdotes de uma mesma religião devem agir
dentro de uma ética que os impeça de falarem mal uns dos outros, utilizando-se
de meios condenáveis para atrair os seguidores de outros templos coirmãos.
16° Mandamento
Nunca faltar com respeito com um outro
sacerdote. Todos aqueles que possuem cargos religiosos são importantes e dignos
de respeito.
Significado: Uma única
palavra pode sintetizar o 16º mandamento de ifá: “Ética”. Os sacerdotes,
independente de funções e hierarquia, devem respeitar-se mutuamente. A falta de
ética entre os sacerdotes de nossa religião, muito tem colaborado para o seu
enfraquecimento e falta de credibilidade pública. O sacerdote dotado de postura
ética religiosa, jamais abre a boca para apontar erros e defeitos em seus
irmãos. Se os constata, procura corrigi-los de forma sutil e, se possível,
despercebida aos olhos alheios, sem alardear aquilo que considera errado.
Muitas pessoas tentam encobrir os próprios erros e esconder a própria
incompetência, apontando, de forma espalhafatosa, o erro e a incompetência dos
outros. Esta é uma atitude incorreta que só tem prejudicado e impedido um maior
desenvolvimento da nossa religião no Brasil.
Podem-se ouvir
todas as noites, em programas de rádio produzidos e apresentados por pessoas do
culto verdadeiros absurdos praticados em nome de nossa religião. As pessoas que
se ocupam neste tipo de divulgação deveriam refletir um pouco mais sobre sua
atuação e os malefícios que produz, não somente aos alvos de suas críticas, na
maior parte das vezes exageradas e motivadas por problemas de ordem pessoal,
mas na religião como um todo que, a cada divulgação enganosa feita, cai no
descrédito e na execração pública. Cada denúncia divulgada publicamente
representa uma nova arma para o arsenal dos detratores de nossa religião.
Só Òrúnmìlà cabe
julgar o que é certo e o que é errado.
Só a eles cabe separar
o joio do trigo.
Fonte:
Mεjìtó Dànsú
Abraços!
Alda de Oxum
Nenhum comentário:
Postar um comentário