A misteriosa
Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que
chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes
de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante
recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz
nada sem água, ela que umidifica, resfria e fertiliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe,
ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria
o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não
existiríamos.
Há muitos momentos em que despachamos a
porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao
retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há
determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do
Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas
situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga
egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um
momento adverso em sua vida no Aye.
Em suma, em todos esses momentos, o
objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca
Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando
palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia.
Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor
dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que,
sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos.
Ao entrar na Casa de Candomblé, por
exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira,
reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre
aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse
aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito
e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos
purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do
convívio no Terreiro de Asè.
Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a
terra antes de caminhar sobre ela.
Abraços
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