Na Nigéria, o culto a
Egungun está relacionado aos ancestrais. O povo
Yorubá acredita nesta energia
porque entendem que não existiria o presente e o futuro, sem a existência do
passado. O culto é um dos mais difundidos em toda a população Yorubá. Na
Nigéria são quase 30 milhões de pessoas que cultuam Egungun. Para se ter uma
idéia da força desta energia, na Nigéria os três orixás mais cultuados são Exu,
Ogum e Egungun.
Egungun é considerado
orixá - ele é a única energia que dá ao homem condições de ser venerado depois
de sua morte, dependendo do histórico da vida da mesma.
O culto a Egungun é
altamente mágico e secreto, por isso os Olojés (pessoas que tem o poder de
manipular a energia de Egungun) são respeitadíssimos. Todas as pessoas podem se
beneficiar da energia de Egungun para solucionar problemas no amor, trabalho,
saúde, espiritualidade, etc.
No Brasil o culto não é
difundido como na Nigéria e apesar dos equívocos de alguns pais e mães de
santo, na Ilha de Itaparica, existe o culto de Egungun considerado parecido ao
da Nigéria. Em Itaparica o culto é totalmente secreto, talvez esse o motivo de
não se ter mutilado através dos tempos, da escravidão aos tempos de hoje. O
culto é equivocado no Brasil, pois muitas pessoas dizem que Egun é energia
negativa, e isso não é verdade.
Egun = Babaegun (uma
coisa só) = Energia positiva
Oku orun (cidadão do
orun) = Energia positiva
Oku (espírito sem procedência)
= Energia negativa
O que falta, talvez para
as pessoas do Brasil, seria informações sobre Egungun. O povo Yorubá acredita
em reencarnação, pois Egungun está interligando vida e morte: assim que uma
criança nasce, eles fazem todo um procedimento para saber o destino da criança,
manipulam oráculos, ou então pedem a ajuda de babalawo que através de ifá,
sabem se a criança é uma encarnação de algum antepassado. Constatando-se o
fato, é feito o ritual de ikomojade, onde a criança terá um nome e é apresentada
para a comunidade com uma festa.
Este ritual de ikomojade
é feito dessa maneira: para o menino só depois de sete dias de vida e a menina
após nove dias. O nome é muito importante para os Yorubá.
Se os babalawo, ao
consultarem o oráculo, constatam que a criança é uma reencarnação de um
antepassado, determinam o nome de babatunde (para meninos) e iyabode (para
meninas). Esses nomes são utilizados no caso de reencarnação dos avós. Existem
outros nomes que são dados dependendo do que for analisado pelo oráculo,
trazendo sorte ao destino da pessoa:
Egun Sola
Egun Biyi
Egun Wale Oje Wale
Egun Gbami
Arugbo
Iyagba
No contexto yorubá, a
morte é dolorosa, mas necessária para o ciclo da reencarnação até que a mesma
pessoa que morra, cumpra o seu plano de ori e dependendo do histórico de vida a
pessoa possa se englobar na energia de egungun tornando-se venerável para a
comunidade ou sociedade. Na Nigéria, quando uma pessoa morre muito cedo, a
sociedade e as pessoas da comunidade ficam tristes, pois acham que a pessoa não
gozou de todos os benefícios terrestres, não aprendeu o que poderia ter sido
aprendido, e por isso fazem, durante o enterro, um ritual na floresta chamado
Iremoje, onde a família da pessoa morta pede para que nunca mais aconteça
aquilo de novo na família da pessoa. Pessoas que morrem muito cedo, não tiveram
um destino bem aventurado no contexto deles. Um outro ritual que existe é o
chamado Axexe, que também é um ritual fúnebre para pessoas que morrem com mais
de noventa anos, para pessoas que são anciãs. No axexe o povo fica alegre e
prepara a pessoas como se fosse para uma festa: colocam a melhor roupa,
penteiam os cabelos do morto, se for mulher fazem trancinhas e pintam o rosto
da pessoa e dependendo do grau financeiro da pessoa eles dão uma festa para
comemorar o falecimento.
O ritual de axexe pode
ser marcado com a presença de duas sociedades Ogboni e as Iyami Osoronga. A
presença dessas sociedades é fundamental porque eles têm o poder de evocar a
pessoa para conversar e saber como foi a passagem, e se ela quer deixar uma
mensagem para a família e se pode ser distribuído os seus pertences para os
familiares. A pessoa é preparada para o Iremoje, onde os familiares cantam
lamentando a morte e depois cantam o Ijala onde falam das glórias conquistadas
pela pessoa em vida, seguindo assim a festa para homenagear a pessoa.
Dependendo do histórico da vida da pessoa que morreu, ela pode se englobar na
energia de Egungun, mas para isso acontecer à pessoa teria que ser boa com as
pessoas, amiga, ter ajudado a sociedade, enfim, teria que ser bem vista pela
comunidade, o destino teria que ser bem aventurado. Nessa ordem a família e a
sociedade podem escolher a pessoa como egungun, sendo assim todos beneficiados
com a escolha e o Egungun se tornaria guardião da família e da sociedade onde
viveu.
Devotos de Egungun podem
chegar a uma evolução espiritual muito rápida, por se Egungun ligado à
ancestralidade, isso quer dizer, a pessoa desenvolve uma intuição, percepção e
sabedoria muito apurada, tornando-se assim muito forte (olojé).
Olojé são pessoas que
manipulam as energias de Egungun. Esse título é concebido a homens. As mulheres
não podem manipular essa energia, mas podem se beneficiar através dos olojés.
Gelede: Culto ao
ancestral feminino, força também manipulada por homens. As mulheres só veneram
as geledes. Existe grande ligação com as Iya Mi Osoronga onde as anciãs são
profundas conhecedoras e na maioria das vezes iniciadas nessa sociedade.
Cada sociedade das
descritas acima, promove a sua festa anual, que pode durar de 7 a 21 dias.
Nesses dias os olojés e a comunidade, se preparam para organizar a festa onde o
Egungun se materializa com o corpo coberto de panos e a máscara mágica (força
essencial do Egungun), aonde ele vem para abençoar toda a comunidade e os
familiares. A única participação da mulher no culto de Egungun é marcada na
benção da Iya Agan (mulher velha que conhece o culto de Egungun). Sem essa
benção Egungun não sai pela comunidade. Eles vão de casa em casa abençoando com
o erukere os seus cultuadores, família e comunidade na qual é o guardião,
sempre acompanhado pelos Atokuns que guiam o Egungun para todos os lados. Os
atokuns usam um tambor para direcionar o Egungun.
Os olojés por sua vez,
levam a magia de Egungun para as praças mostrando ao público o seu poder. Por
exemplo, os olojés usam o poder de Egungun para fazer uma bananeira dançar.
Isso geralmente acontece no final da Festa de Egungun.
A festa é marcada por
muita música, comidas fartas, alegria e grandeza.
Na Nigéria existe a iniciação
para Egungun, porém há vários critérios a se analisar:
1º - Analisar o grau de
ligação da pessoa com Egungun
2º - Herança familiar
(odu de nascimento)
3º - Vontade da pessoa
4º - A pessoa pode estar
sonhando com Egungun
5º Consulta através dos
oráculos podem determinar a iniciação
Todos estes elementos
podem determinar a iniciação da pessoa em Egungun.
Esse processo de
iniciação é muito secreto. Para a pessoa ser iniciada em Egungun, ela tem que
ser uma pessoa que saiba guardar segredo: o bom feiticeiro não revela seus
dotes mágicos. A pessoa sela um pacto de segredo. Esse pacto só será fechado
depois que a pessoa come elementos preparados para dar ligação da pessoa com
Egungun. Aí ela se tornará membro do culto a Egungun e com o tempo ela será um
verdadeiro Olojé. Claro que ela tem que ter força de vontade, humildade e
paciência, lembrando-se de que uma vez iniciado sempre iniciado pois não tem
mais volta.
O assentamento de Egungun
é formado por Iyangi, vários atori, osso da canela de pessoas que já morreram,
meias e um véu para tampar o rosto. Uma pessoa viva veste todas estas roupas
para o Egungun se materializar. A pessoa fica em transe com o egungun
materializado.
Os cultos de origem
africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os iorubanos - um dos
grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos tribais, tais como
Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente religiosa - nos
enriqueceram com o culto de divindades denominadas genericamente de orixás.(1 -
Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os termos em língua yorubá
foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)
Esses negros iorubanos
não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas também seus ancestrais,
principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final da vida para o
iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a pessoa renasce
no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos seus
descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível e
angustiante para eles não reencarnar.
Os mortos do sexo
feminino recebem o nome de Iami Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados
individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e
representada por Iami Oxorongá, chamada também de Iá Nlá, a grande mãe. Esta
imensa massa energética que representa o poder de ancestralidade coletiva
feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas
exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
poder. O medo da ira de Iami nas comunidades é tão grande que, nos festivais
anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de
mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira
e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.
Além da Sociedade Geledê,
existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo
dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual
Iami Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados
masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Iami quanto Oro são
manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade,
mas o poder de Iami é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela
Sociedade Oro.
Outra forma, e mais
importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas
"Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a
homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando
vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma
privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade. Esses mortos surgem de
forma visível, mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida
pós-morte, denominada Egum ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino
fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantém a individualidade; às
mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do
culto.
Esses Eguns são cultuados
de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com
sacerdotes diferentes dos orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que
conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.
No Brasil existem duas
dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum remonta ao tempo da
escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente
e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica, Bahia.
O Egum é a morte que
volta a terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele
"nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos
Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã,
que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos
rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum ancestral
individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é
cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em que o transe
acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e
iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual e
usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana
totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte
superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum
vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural
inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente - característica de
Egum, chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco
marrom, chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas
dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já
afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egum) sob transe
mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em
transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egum está entre os
vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as
roupas ali estão e isto é Egum.
A roupa do Egum - chamada
de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum propriamente dito, é
altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos
os mariwo usam o ixã para controlar a "morte", ali representada pelos
Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas
populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egum se tornará um
"assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por
vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a
própria morte.
Ora, o Egum é a
materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples
esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes -
como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns -
desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.
Os Egum-Agbá (ancião),
também chamados de Babá-Egum (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos
completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas
vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká
são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um
quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda
estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e
imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são
divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como
se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da
qual caem várias tiras de panos coloridas, formando uma espécie de franjas ao
seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que
acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é uma tira de pano especial presa
no kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá.
O banté, que foi
previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível
e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele
sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de
pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este
ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de
roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras
esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os alabá e o kafô,
usam peles de animais; alguns Babás carregam na mão o opá iku e, às vezes, o
ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos
litúrgicos.
Existem várias
qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e entre os
Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As
classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em
Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a
porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia
já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e
exclusiva, único local de união com o mundo externo.
Os ancestrais são
invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuxã (iniciados
que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus
limites, para evitar que alguns Babás ou os perigosos Apaaraká que escapem aos
olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não
protegidas.
Os Eguns são invocados
numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê
awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na
Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os ojé podem
entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Balé é o local onde estão
os idiegungum, os assentamentos - estes são elementos litúrgicos que,
associados, individualizam e identificam o Egum ali cultuado, e o ojubô-babá,
que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os quais,
de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas
oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egum a ser cultuado ou
invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade
de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade feminina venerada e
cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns.
No balé os ojê atokun vão
invocar o Egum escolhido diretamente no assentamento, e é neste local que o awo
(segredo) - o poder e o axé de Egum - nasce através do conjunto
ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egum se torna visível aos olhos
humanos.
Após saírem do ilê awo,
os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta secundária do salão, entrando
no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali
chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo som dos amuxã, brandindo os ixã pelo
chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e
cantadores de Egum). O clima é realmente perfeito.
O espaço físico do salão
é dividido entre sacro e profano. O sacro é à parte onde estão os tambores e
seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas
quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na
companhia dos outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo
possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os
vivos com os mortos.
Nesta parte sacra,
mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente
restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são
exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto
dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto
de Egum - estas posições de grande relevância causam inveja a comunidade
feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios,
confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os
cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar
para os Babás. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem uma roda para
dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem
sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre
os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos
os Babás, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o
mundo do Egum nos momentos de encontro com seus descendentes. Assistência está
separada deste mundo pelos ixã que os amuxã colocam estrategicamente no chão,
fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a
"morte" da "vida". É através do ixã que se evita o contato
com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e
o controla. Às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com o ixã no seu
peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos
vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e
rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem
grande respeito.
O espaço profano é
dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e crianças e à direita, os
homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos
preferidos, porque cada Egum em vida pertencia a um determinado orixá. Como diz
a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta característica é mantida
pelo Egum. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e
vindo com Egum, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando
pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é
sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo
preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e
excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos cânticos
e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e
cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante
reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível iorubá arcaico
e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum começará perguntando pelos
seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos
outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira
vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel
de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e
protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas comunidades,
funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e
laicas.
Finalizando a conversa
com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egum parte, a festa termina e a
porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará
protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição
de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente
para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E
também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidades
cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência
direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.
Abraços
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